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domingo, 12 de dezembro de 2010

Estréia TOQUINHO Histórias de canções

Livro conta histórias sobre as canções de Toquinho
Cem composições são enfocadas pelos pesquisadores Wagner Homem e João Carlos Pecci
Eduardo Tristão Girão - EM Cultura

No início dos anos 1970, Vinicius de Moraes tinha em mãos a letra do que viria a ser a canção Tarde em Itapoã. Ele e Toquinho haviam acabado de inaugurar parceria promissora assinando A bênção, Bahia e Mais um adeus, mas a intenção do Poetinha era entregá-la para Dorival Caymmi musicar. Preocupado com isso, Toquinho, então no início de carreira, não teve dúvidas: furtivamente, passou a mão no papel que continha os versos e tratou de transformá-los em música. Ouvindo o que o parceiro havia feito, Vinicius tentou resistir, mas acabou convencido de que aquela era a versão definitiva.

Esse e muitos outros casos recheiam o recém-lançado livro Histórias de canções: Toquinho (Leya Brasil), escrito por Wagner Homem e João Carlos Pecci – esse último, irmão do artista. Os autores realizam a proeza de contemplar quase meio século de carreira: desde as aulas de violão com Paulinho Nogueira e o lançamento do disco de estreia, O violão de Toquinho (1966), até Mosaico (2005) e a revelação do próximo trabalho, um álbum com Paulo Ricardo em homenagem a Vinicius.

Missão A dupla selecionou 100 das 300 composições do músico para integrar a obra. O que parece tarefa árdua – contextualizar uma centena de músicas separadamente, sem trilhar o caminho da análise de sentido – não foi assim tão difícil para os autores.

Apaixonado por MPB e bossa nova, Wagner é autor de outro título da série Histórias de canções, dedicado a Chico Buarque. Há ainda um terceiro, cujo foco é a obra de Paulo César Pinheiro, escrito pelo próprio compositor.

João Carlos, por sua vez, é autor de duas biografias do irmão (Toquinho – 40 anos de música, pela RCS, é uma delas) e outra sobre Vinicius de Moraes, Vinicius – Sem ponto final (Saraiva).

“Conversei com Toquinho outra vez para que ele se lembrasse de histórias de outras músicas. Fizemos, eu e Wagner, um texto mesclado. Foi interessante ver os mesmos assuntos abordados de outra forma. Meu texto é mais rebuscado, o dele é mais objetivo. Desta vez, ficou mais simples e mais bonito. O leitor degustará tudo com mais facilidade”, conta João Carlos.
As histórias são entremeadas com fotos de diferentes épocas e com as próprias letras em questão. Cada capítulo é aberto com a reprodução da capa de um dos discos de Toquinho, incluindo ano de lançamento, gravadora e listagem completa das faixas e seus respectivos autores.

Itália Algumas canções têm longa e curiosa história, caso de Aquarela, um dos maiores sucessos da carreira do artista. A melodia foi composta com Maurizio Fabrizio, italiano que Toquinho não conhecia e veio ao Brasil só para trabalhar com ele.

O projeto foi financiado por um empresário italiano em 1982, época em que o brasileiro já gozava de grande popularidade no país europeu. Os versos originais para a conhecida melodia ficaram a cargo do letrista italiano Guido Morra. Animado com o grande sucesso da canção na Itália, Toquinho decidiu encarar o desafio de adaptar a letra para o português. Foram meses de trabalho.

Outras composições surpreendem pelo fator “acaso”. Um dos melhores exemplos disso é Escravo da alegria, cuja letra – declaração de amor a Mônica, mãe dos dois filhos de Toquinho – surgiu durante viagem pelo interior de Minas Gerais, entre um show e outro. O compositor leu a frase “se o amor é fantasia eu me encontro em pleno carnaval” pintada no parachoque de um caminhão. Foi o pontapé para deslanchar mais uma parceria com Mutinho, registrada no disco Um pouco de ilusão, dividido com Vinicius.

HISTÓRIAS DE CANÇÕES: TOQUINHO
De Wagner Homem e João Carlos Pecci
Editora Leya Brasil, 304 páginas, R$ 44,90

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